FATORES ASSOCIADOS AO CONSUMO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS POR PESSOAS TRANSGÊNERO NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Nome: JULIANA ALMEIDA MOREIRA
Data de publicação: 28/07/2023
Banca:
Nome | Papel |
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CAROLINA PERIM DE FARIA | Examinador Interno |
JOSE LUIZ MARQUES ROCHA | Presidente |
PABLO CARDOZO ROCON | Examinador Externo |
Resumo: O termo transgênero (TRANS) comporta pessoas cuja identidade e/ou expressão de gênero é divergente das expectativas culturais com base no sexo que lhes foi atribuído ao nascimento. Este grupo experimenta taxas mais altas de assédio e bullying, falta de abrigo, violência sexual e física, rejeição dos pais e isolamento social quando comparado às pessoas cisgênero (CIS). Tais experiências negativas aliadas à falta de apoio social colocam estas pessoas em risco substancial de fazerem uso abusivo de substâncias como mecanismo de enfrentamento do estresse sofrido. Neste contexto, o presente estudo objetivou identificar as diferenças no consumo de álcool e outras drogas entre pessoas TRANS e CIS e identificar os fatores associados ao consumo de álcool e outras drogas por pessoas TRANS. Trata-se de um estudo analítico observacional transversal envolvendo participantes recrutados por meio de link eletrônico, que responderam a questionários por meio de uma plataforma on-line que incluíram variáveis socioeconômicas, de saúde, sintomas depressivos, qualidade de vida e consumo de álcool e outras drogas. A ferramenta de triagem Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST) foi o instrumento utilizado para detecção do uso de álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas. Análise de regressão linear simples foi ajustada em três modelos para verificar a associação entre variáveis explicativas associadas ao uso de álcool e outras drogas por pessoas TRANS. Foi considerado o nível de significância de 5% para todos os testes. A amostra incluiu 145 indivíduos (66 TRANS e 79 CIS). A mediana de idade dos participantes dos/as TRANS foi de 23 (18-44) anos e dos CIS 24 (19-57) anos (p>0.05). O grupo dos voluntários CIS apresentou menor proporção de participantes que recebiam <1 salário mínimo (SM) (p=0.001) e maior proporção com ensino superior completo e/ou pós-graduação (p=0.003). Em relação à experiência de preconceito, esta foi maior entre as pessoas TRANS (p0.001). A maioria dos/as TRANS apresentavam alguma comorbidade (p=0.004), fumavam (p<0.001) e apresentavam sintomas depressivos em comparação aos voluntários CIS (p<0.001). O consumo de álcool, tabaco, maconha, cocaína, anfetaminas, hipnóticos e alucinógenos foi maior no grupo TRANS (p<0.05 para todos). As análises de regressão linear evidenciaram que ser TRANS eleva o score do consumo de tabaco (= 4.851; IC= 2.567 -7.135; p0.001), maconha (= 3.700; IC= 1.717 - 5.684; p=0.001) e alucinógenos (= 0.886; IC= 0.227 - 1.546; p=0.009). Ao avaliar a renda entre as categorias de identidade de gênero (mulher TRANS, homem TRANS e não binário), observou-se que uma grande proporção de voluntários não-binários recebia menos de 1 SM (p=0.004) em comparação com as demais categorias. Por outro lado, a maioria dos participantes não binários da amostra não faziam uso de hormonioterapia (p=0.022). O consumo de alucinógenos foi maior entre os não binários (p=0.021). A análise de regressão linear multivariada revelou que os estudantes e/ou desempregados (= -3.082; IC= -5.964 – -0.200; p=0.037) e que realizaram cirurgia de redesignação sexual (= -6.864; IC= -11.368 – -2.361; p=0.003) apresentaram associações negativas para o consumo de álcool. Da mesmas forma, aqueles categorizados como estudantes e/ou desempregados (= -7.754; IC= -11.624 – -3.884; p=00.001), que não sofreram transfobia (= -8.603; IC= -14.656 – -2.551; p=0.006) e que apresentaram baixa insatisfação corporal (= -3.866; IC= -7.531 – -0.201; p=0.039) apresentam associações negativas com o consumo de tabaco. Por outro lado, aqueles que possuíam ensino superior completo se associaram positivamente ao consumo de hipnóticos (= 2.349; IC= 0.736 – 3.962; p=0.005). Além disso, aqueles autointitulados como pardos e/ou pretos se associaram de forma positiva ao consumo de outras drogas (= 1.435; IC= 0.307 – 2.562; p=0.014). Os resultados deste estudo revelaram que uma significativa parcela da população TRANS está exposta ao uso abusivo de álcool e outras drogas. Ademais, a cor da pele, renda, experiências de preconceito e a presença de comorbidades demonstraram interferir no consumo dessas substâncias nocivas. Verifica-se a necessidade de se implementar medidas para identificar o uso abusivo de drogas e promover uma intervenção adequada e direcionada no contexto das necessidades específicas deste grupo populacional. Bem como, aa promoção de maiores ações e políticas públicas de saúde voltadas para esse público, pois variáveis como renda, escolaridade, presença de comorbidades, satisfação corporal e acesso aos serviços de saúde podem influenciar no maior ou menor consumo de álcool e outras drogas.