CONDIÇÕES DE PARTO, NASCIMENTO E ALEITAMENTO MATERNO DE MULHERES ATENDIDAS HUCAM.
Resumo: Segundo o IBGE a Mortalidade infantil é definida como a frequência com que ocorrem os óbitos infantis (menores de um ano) em uma população, em relação ao número de nascidos vivos em determinado ano civil (IBGE, 2013). Podendo ser classificada em mortalidade neonatal precoce (0 a 6 dias), neonatal tardia (7 a 27 dias) e mortalidade pós-natal (crianças com 28 a 364 dias) (DATASUS, 2013). A visível redução na mortalidade infantil observada no Brasil e em diversos outros países no mundo ocorreu devido ao somatório de esforços de governos, organizações e comunidade civil, sendo que um dos principais estimuladores para essa evolução positiva foi o chamado pacto de desenvolvimento do milênio.
A organização das Nações Unidas (ONU) juntamente com diversos países, incluindo o Brasil, assinou em 26 de julho de 2000, o Pacto de Desenvolvimento do Milênio. O Pacto em questão apresenta oito objetivos, focados desde o combate a AIDS, malária e outras doenças até a redução da mortalidade infantil.(ONU, 2000)
Dentre os objetivos, ressalta-se o quarto objetivo que possui como meta a redução dos índices de mortalidade infantil em dois terços entre os anos de 1990 e 2015. (ONU, 2000) Para o Brasil, o alcance da referida meta significava a redução da mortalidade infantil de 47,1 óbitos por mil nascidos vivos para 17,9 até 2015 (IBGE, 2013). Observou-se grande empenho do Brasil no alcance das metas, algumas foram não somente alcançadas como também superadas, em 2012 atingindo taxa de mortalidade infantil de 68,5% em 1990 para 16,9% no ano de 2012 (BRASIL, 2013). Contribuíram para a redução dessa taxa ações e programas de saúde, tais como: o Programa Saúde da Família, a Terapia de Reidratação Oral, o Programa Nacional de Imunização e os Programas de Atenção Integral à Saúde da Mulher (IPEA, 2005).
Mesmo havendo uma grande redução da mortalidade infantil no Brasil, ainda há muito que empreender nesse campo. Trata-se de um evento com causalidade multifatorial, muito embora já se conheça grande parte dos fatores envolvidos. Segundo Rojas et al., os óbitos de recém nascidos representam 37% de todas as mortes de crianças abaixo de cinco anos, das quais 75% ocorrem na primeira semana de vida, estando a prematuridade e o baixo peso ao nascer as principais causas (29%). (ROJAS, 2013)
Outros fatores associados com a mortalidade infantil também vêm recebendo atenção dos pesquisadores. Pode-se destacar entre eles o aleitamento materno como a mais exequível e barata forma de prevenção da mortalidade infantil no mundo. Neste momento a duração insuficiente do aleitamento materno seja ele exclusivo ou complementado ou mesmo sua não iniciação passou a receber mais atenção dos gestores em saúde pública e pesquisadores. (ALMEIDA, 1999).
A maior produção científica sobre o aleitamento materno nas últimas décadas, além de embasar as estratégias de promoção, proteção e apoio ao mesmo também favoreceu a padronização das definições em suas diferentes caracterizações. Em 1991 a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu o aleitamento materno conforme as diferentes categorias: (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1991).
Aleitamento materno (AM): a criança recebe leite humano, seja ele amamentado ou ordenhado.
Aleitamento materno exclusivo (AME): a criança não recebe qualquer outro líquido que não o leite humano (amamentado ou ordenhado) ou gotas e xaropes contendo vitaminas, minerais ou medicamentos.
Aleitamento materno predominante (AMP): a criança recebe o leite materno (como principal fonte de nutrição) e pequenas quantidades de água, sucos ou outras bebidas à base de água, além de soluções de reidratação oral, xaropes e gotas de vitaminas, minerais e medicamentos.
Aleitamento materno complementado (AMC): a criança recebe leite humano e outros alimentos líquidos (incluindo leite não-humano), semi-sólidos e sólidos.
Tal iniciativa ajudou na estandardização internacional da nomenclatura e definição das diferentes classificações do aleitamento materno; nomenclatura esta que posteriormente foi utilizada para a redação das recomendações de diversas entidades dentre elas a OMS (2003) e o Ministério da Saúde do Brasil (2002), e vem sendo amplamente utilizada na literatura científica mundial, tornando mais fácil a comparação entre diferentes estudos.
As recomendações atuais para o aleitamento materno no Brasil seguem as diretrizes internacionais e preconizam não somente o aleitamento materno na primeira hora de vida, como o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida e o complementado até os 24 meses ou mais (BRASIL, 2002); tais definições foram fortemente influenciadas pela revisão sistemática realizada por Kramer e Kakuma (2002), que discorre sobre a duração ideal do aleitamento materno exclusivo.
Dentre os fatores ressaltados por Kramer e Kakuma (2002), destaca-se que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês diminui as taxas de infecção gastrintestinal, favorece a perda de peso pós-gestacional mais rapidamente e provê substrato para crescimento físico adequado dos bebês além de retardar o retorno da menstruação no período pós-parto funcionando como método contraceptivo.
Outros benefícios do aleitamento materno para os lactentes, embora alguns ainda sejam discutidos em decorrência dos achados inconsistentes, são descritos na literatura internacional, dentre eles a associação com inteligência e melhor desempenho escolar descrita por Hortal et al. (2007), a proteção contra doenças respiratórias (QUIGLEY ET AL., 2007; BOCCOLINI et al., 2011; CHANTRY ET AL., 2006; DUIJTS et al., 2010), a enterocolite necrotizante (LUCAS; COLE, 1990), o estreitamento do vínculo entre mãe e filho (GIUGLIANI, 1994), além da proteção em longo prazo contra outros agravos como o diabetes (KRAMER, 2010; GOUVIERI et al., 2011) e a obesidade (KRAMER, 2010; AMIR; DONATH, 2007; MONASTA et al., 2010) incidentes ao longo da vida.
No que se refere aos benefícios do aleitamento materno para as nutrizes, alguns são conhecidos desde a década de 90 destacando-se a proteção contra o câncer de ovário e o câncer de mama. (GOUVIERI et al., 2011). Outro fator importante é o custo financeiro aumentado relativo ao uso de fórmulas artificiais em substituição ao leite materno. Araújo et al (2004), em artigo no qual compara-se o custo da complementação alimentar da nutriz carente em relação ao custo de alimentação do recém nascido com fórmula ou leite de vaca tipo C, concluiu que a primeira opção, além de relacionar-se com ganhos em saúde e qualidade de vida tanto para nutriz quanto para o lactente, é economicamente mais viável. (GIUGLIANI, 1994; KRAMER, 2010).
Embora amplamente estudado e fortemente recomendado, o aleitamento materno, seja ele exclusivo ou complementado, ainda apresenta duração aquém das recomendações em todo o mundo.
Outro fator de extrema importância para a saúde infantil refere-se às condições de parto do recém-nascido, especificamente ao peso ao nascer. Considera-se Baixo Peso ao Nascer (BPN) recém-nascido com o peso <2500g e os que nascem com >4500g são classificados com macrossomia fetal. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2007) Há diversos estudos na literatura que buscam entender os fatores ligados ao BPN, para que assim seja possível criar programas e estratégias com o intuito de prevenir este desfecho.
Além de estar associado com a mortalidade infantil, o BPN vem sendo associado com outras complicações na infância, dentre elas destaca-se doença respiratória, diarréias e também com complicações na vida adulta: dentre elas o Diabetes Mellitus, a Obesidade eHipertensão Arterial. (SAAS et al., 2011)
Dessa forma, o peso do nascimento é um fator fundamental para determinar a sobrevivência de neonatos devido ao seu impacto no perfil de morbimortalidade dos mesmos, assim como, deve-se considerar sua influência no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta. (SAAS et al., 2011; GAMA et al., 2001; MOTTA et al., 2005)
A ocorrência do BPN está relacionada com fatores sociodemográficos, culturais, econômicos e de saúde, podendo assim ser considerada um resultado de desigualdade social (ROJAS et al., 2013; NASCIMENTO et al., 2001). Gestantes que possuem baixo nível socioeconômico, nível de escolaridade inferior e dificuldade no acesso aos serviços de saúde geralmente recebem um pré-natal inadequado, apresentando assim maiores riscos para o BPN. (BARBIERI, 1992; ALMEIDA, 2002). Os fatores biológicos e de estilo de vida que influenciam o BPN são diversos, dentre eles temos: intervalo gestacional, estado nutricional materno, hábitos de fumar e/ou beber, idade materna, entre outros.A Mortalidade Infantil é um indicador capaz de demonstrar as condições de saúde de uma população. No ano de 1997 a taxa de mortalidade infantil era de 31,9, valor alarmante quando comparado a outros países como França, Itália e Estados Unidos: 4,68, 5,64 e 7,49 respectivamente.
Em setembro de 2000, o Brasil e diversos países assinaram o Pacto de Desenvolvimento do Milênio, cujo 4º objetivo é exatamente a redução da mortalidade infantil e materna, atualmente observa-se uma redução desta taxa, estando aproximadamente em 16 (DATASUS, 2010).
O peso ao nascer é um dos fatores mais importantes para a morbimortalidade infantil. Crianças que nascem com peso inferior a 2500gr (baixo peso ao nascer - BPN) e com peso situado entre 2500gr e 2999gr (peso insuficiente) apresentam alto risco de morbimortalidade neonatal.
Além de comprometer o desenvolvimento sadio dessas crianças no início da vida, o baixo peso ao nascer está associado com obesidade, diabetes melittus, disfunção imunológica e doenças cardiovasculares ao longo da vida. Assim sendo, é de extrema importância que os fatores relacionados ao baixo peso ao nascer sejam descritos a fim de prevenir este desfecho.
O aleitamento materno também é considerado um importante fator tanto na prevenção da morbi-mortalidade infantil como na promoção da saúde materno-infantil; além de configurar-se como a medida mais fácil e barata para a promoção à saúde do grupo em questão.
O aleitamento materno, especificamente na primeira hora de vida proporciona vários benefícios para a mãe e para o bebê, como por exemplo, o fortalecimento do vinculo mãe-filho, redução dos riscos de hemorragia materna, favorecimentoda contração uterina, além de fornecer uma série de anticorpos importantes para a imunidade do bebê, por isso é considerado a primeira vacina da criança, entre outros benefícios.
Há escassez de estudos recentes deste tipo no estado do Espírito Santo, portanto é importante conhecer as causas que levam ao Baixo Peso ao Nascer (BPN) e os fatores associados ao aleitamento materno na primeira hora de vida, pois de posse destas informações pode-se direcionar o cuidado materno-infantil, assim como desenvolver e implementar políticas e ações em saúde.
Trata-se portanto, de um estudo com desenho epidemiológico transversal e metodologia quantitativa, descritiva e analítica denominado de Estudo das Condições Parto, Nascimento e Aleitamento Materno de Mulheres atendidas HUCAM.
Data de início: 02/06/2014
Prazo (meses): 12
Participantes:
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Coordenador | CAROLINA PERIM DE FARIA |